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Rafael do Valle fala sobre “Shirley para Presidente”, novo filme da Netflix

Cinebiografia que acaba de estrear no streaming conta a história da primeira mulher negra eleita para o Congresso dos EUA.

Publicado em 28/03/2024 às 16:41

Rafael do Valle (Foto: Acervo pessoal)

Em 2009, Barack Obama assumiu o posto de 44º presidente dos Estados Unidos, sendo a primeira pessoa negra eleita à presidência do país. Alguns anos depois, em 2021, Kamala Harris se sagrou como a primeira mulher e a primeira pessoa negra a assumir o posto de vice-presidente dos Estados Unidos. Foram mais de 200 anos de luta e espera, desde a eleição em 1789 de George Washington, o primeiro presidente dos Estados Unidos, para que tais feitos acontecessem. Ao longo desses anos, diversos políticos negros pavimentaram o caminho que leva até a Casa Branca. Uma dessas figuras ilustres é Shirley Chisholm, a primeira mulher negra eleita ao Congresso dos Estados Unidos, representando o 12º Distrito Congressista de Nova Iorque por 7 mandatos, de 1969 a 1983.

Sua eleição se deu poucos anos após a promulgação, em 1965, da Lei dos Direitos de Voto (Voting Rights Act, em inglês), que garantiu o direito universal a todas as pessoas negras nos Estados Unidos, que viviam franca discriminação racial. A popularidade alcançada e o forte apoio de seus eleitores encorajaram Shirley Chisholm, em 1972, a concorrer à presidência do país pelo partido dos Democratas. É a partir dessa corrida eleitoral que “Shirley para Presidente”, filme que acaba de estrear na Netflix, começa a contar a história da democrata.


Shirley Chisholm (Regina King) sendo empossada como congressista. (Foto: Divulgação/Netflix)

Assim que assumiu seu assento no Congresso, Shirley Chisholm, interpretada por Regina King, teve de enfrentar diversos obstáculos. À época, era a única mulher atuante na casa dos congressistas. Alguns de seus colegas homens não viam com bons olhos uma mulher negra receber o mesmo salário que eles, o que gerava certas animosidades. Chisholm ainda teve de lidar, pelo menos no início de seu mandato, com pautas menores, aquelas que os grandes políticos não queriam e que eram delegadas pelo seu partido, em vez pautas importantes aos seus eleitores. Ainda assim, a congressista tinha apoio suficiente para impulsionar uma candidatura à presidência dos Estados Unidos pelo partido dos Democratas.

Para dar início à corrida eleitoral, Chisholm teria de vencer a eleição primária, que é a disputa interna do próprio partido. Só depois, caso vencesse, ela enfrentaria os candidatos dos demais partidos. A congressista enfrentou oposição ferrenha dentro do próprio partido e até mesmo da comunidade negra. A sensação que ela tinha era a de que ser mulheres pesava mais do que ser negra. Com o slogan “Unbought and Unbossed”, que poderia ser traduzido para “Não-comprável e não-chefiável”, a campanha de poucos recursos foi pouco a pouco perdendo o fôlego à medida que seus apoiadores pulavam fora do barco para apoiar outros candidatos. Shirley Chisholm acabou as primárias de seu partido em quarto lugar, perdendo para o então senador George McGovern, que seria derrotado em seguida na eleição geral pelo já presidente republicano Richard Nixon.


Shirley Chisholm em sua campanha de 1972. (Foto: Tony Barnard/Wikimedia Commons)

Ao optar por focalizar a corrida eleitoral de 1972, “Shirley para Presidente” deixa de lado muito do passado da congressista, sua trajetória até chegar ao Congresso, o jogo político do qual fazia parte, suas ideologias e visão de mundo. Pela lente do filme, Shirley Chisholm parece a política ideal dos dias de hoje: uma mulher negra que luta pelas minorias. Se se candidatasse hoje, teria chances reais de vencer. Mas a congressista não era tão progressista quanto o filme tenta vender. Até porque trata-se de uma figura histórica de 40 anos atrás. De qualquer forma, é inegável que Shirley Chisholm, que morreu em 2005, aos 81 anos, seja uma mulher de vanguarda e que serve até hoje como referência e inspiração para muitas mulheres no campo da política norte-americana.

Assista ao trailer do filme:



Rafael do Valle, doutorando em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos.

📧 E-mail: rafaellopesdovalle@gmail.com


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